Você ouviu algo a respeito de sinodalidade em sua comunidade eclesial, no movimento, pastoral ou grupo em que atua, ou de algum influenciador digital neste último ano? Se não, fique atento, pois é sinal de que você pode estar numa bolha alienante.

Na realidade, o tema tem sido refletido na Igreja desde 2021, quando o Papa Francisco convocou a Igreja a percorrer o caminho rumo ao Sínodo, em outubro de 2023: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. Assim, ele “convida a Igreja inteira a se interrogar sobre um tema decisivo para a sua vida e a sua missão: “O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio”. Posteriormente, em outubro de 2022, o Papa prolongou o processo do Sínodo, estabelecendo uma segunda sessão sinodal em outubro de 2024.

O processo sinodal, no entanto, não termina em 2024. Isto está bem ressaltado nas indicações da constituição Apostólica citada no Instrumento de Trabalho do Sínodo que assinala o “caminho de conversão e de reforma que a Igreja deve realizar” para além da sessão do Sínodo. “Estamos ainda aprendendo como ser Igreja sinodal missionária, mas é uma missão que experienciamos poder empreender com alegria”, diz o texto.

Como vemos, trata-se de um caminho de conversão (metanoia), para vivenciar a sinodalidade como uma dimensão constitutiva da Igreja em cada instante e realidade de nossa vida eclesial e de compromisso na missão.

O caminho feito até aqui apontou os maiores desafios a serem enfrentados nesse sentido, entre os quais se destaca a necessidade de superar o clericalismo, e vivenciar realmente a eclesiologia do Concílio Vaticano II, com respeito à dignidade e à consciência de cada batizado como sujeito eclesial, participante ativo na vida e na missão da Igreja.

Mas atenção! A superação do clericalismo não diz respeito apenas aos ministros ordenados! O Papa Francisco já alertava na Evangelii Gaudium, a tendência em muitos agentes evangelizadores de “uma acentuação do individualismo, uma crise de identidade e um declínio do fervor” (cf. EG, n. 78), buscando espaços pessoais de autonomia e de autoreferencialidade. Isso se torna ainda mais evidente na mídia digital, com a atuação de “influenciadores”, do clero e leigos. “Muitos agentes digitais podem, com o passar do tempo, cair na tentação de colocar sua confiança em aquisições financeiras, de poder e glória humanas, perdendo o sentido missionário e sinodal de sua comunicação” (EG, n. 80). Dessa forma, acabam envolvendo multidões de seguidores, mas de si mesmos, não de Jesus Cristo, em sintonia com a caminhada da Igreja. 

Há muita busca pelo sagrado e pela espiritualidade nos tempos atuais, e, consequentemente, muitas ofertas religiosas, algumas alienantes, no sentido de serem desencarnadas e estéreis, do ponto de vista pessoal e particularmente do social. O desafio da evangelização diante desse mercado religioso, já o indicava o Papa Francisco, é apresentar uma vivência eclesial “que os cure, liberte, encha de vida e de paz, ao mesmo tempo que os chame à comunhão solidária e à fecundidade missionária” (EG, 89). Em diversos perfis cristãos nas redes percebe-se uma espiritualidade do bem estar e uma teologia da prosperidade, sem vínculos comunitários. O sentido de sinodalidade e de comunhão eclesial passa longe dessas propostas. Ao contrário, é bem frequente um espirito belicoso que investe contra a própria Igreja, encaminhando as pessoas ao afastamento cismático da comunidade de fé.

Acompanhemos o desenrolar da segunda sessão do Sínodo a realizar-se de 02 a 27 de outubro. Façamos isso em clima de fé e de oração. Sim, o Sínodo é um tempo de oração, “não é uma convenção”, mas “uma assembleia eclesial que reza”, é um tempo de escuta da Palavra de Deus e do Espírito e também uma ocasião para implorar de Deus o perdão pelos pecados da Igreja, como ressalta o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, que também recorda as palavras do Papa Francisco na abertura do Caminho Sinodal: “o protagonista do Sínodo é o Espírito Santo”.

Estamos em Sínodo, com a Igreja e como Igreja! Deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo neste caminho.